Encontro mescla atividades culturais e artísticas para mascarar interesses empresariais e tomar espaço dos movimentos sociais
Publicado originalmente pelo Movimento Ponta do Coral 100% Pública
É assim que a Associação Floripa Amanhã anuncia um evento de 3 dias, com diversas atrações culturais e painéis, patrocinada com incentivos da Fundação Catarinense de Cultura e do Governo do Estado de Santa Catarina (Participou de algum edital?).
Quem participa das lutas populares e socioambientais em Florianópolis conhece bem o papel que essa entidade representa, desde sua fundação em 2005. Sempre em defesa do capital e do empresariado da cidade, especialmente dos setores da construção civil, na defesa de projetos que favorecem a especulação imobiliária, o turismo predatório e a destruição ambiental, como uma marina na Beira-mar Norte, um hotel na Ponta do Coral e, mais recentemente, o Plano Diretor em que a participação popular foi sabotada.
Para os desavisados, basta dar uma lida nos artigos publicados no site da instituição, como, por exemplo, quando esta entidade se posicionou por meio de uma nota, após a vitória de Bolsonaro, nas eleições de 2018:
“As últimas eleições nacionais mostraram que os ventos do século XXI são outros e que a sociedade se cansou da tutela do Estado e quer ser protagonista.”
A nota continua, com a defesa da manutenção de projetos destinados a uma minoria, como os beach clubs de Jurerê, a marina na Barra da Lagoa e o Costão Golf, no Santinho. Apesar de rejeitar a tutela do Estado, cabe notar que uma figura importantes da entidade, a empresária Zena Becker, ex-presidenta do Floripa Amanhã, ocupa desde a gestão Gean cargos na Prefeitura, sendo ela atualmente Secretária de Turismo, Esporte e Cultura de Topázio.
Em maio de 2023, quando o Plano Diretor das construtoras e da especulação imobiliária foi aprovado na Câmara de Vereadores, a entidade novamente se posicionou:
“Novo Plano Diretor, mais moderno e sustentável, entra em vigor”. A sanção do PD é mais uma vitória da população de Florianópolis, abraçada de forma responsável e comprometida pela gestão do Prefeito Topázio Neto, que não fugiu à raia e demonstrou coragem, determinação e enfrentamento deste desafio, desde o início.”
Qual população se referem? Ora, basta ver o quadro de associados publicado no site para entendermos a qual classe social pertencem e estão a serviço, como, por exemplo:
- Habitasul
- Woa
- Costão do Santinho
- Aliator Silveira – ex-sócio da Hantei, quando a mesma pretendia construir um hotel na Ponta do Coral
- Carlos Berenhauser Leite, Diretor Administrativo (O empresário foi eleito em 2024 para presidir o Sinduscon Grande Florianópolis, atua na área da construção civil há mais de quatro décadas. Esteve à frente da Habitasul e de Jurerê Internacional desde a implementação do empreendimento no Norte da Ilha de SC.)
Aliás, muitas destas figuras “chave”, em episódios recentes, que fazem parte da gestão Topázio, estarão presentes como painelistas no evento, falando de meio ambiente, direito à cidade e cultura e pautando o debate local, incluindo o Coronel Araújo Gomes, Secretário de Segurança Pública do município, responsável por organizar uma verdadeira operação de guerra na votação do Plano Diretor, com tapumes cercando a Câmara para cercear à população do seu direito de manifestar. Ele irá participar de um painel sobre déficit habitacional, direito à cidade e pessoas em situação de rua, mas não vimos o anúncio de ninguém do Movimento da População em Situação de Rua presente nessa discussão. Inclusive não tem ninguém dos movimentos pelo direito à cidade. Estranho, para dizer o mínimo.
Michel Mittman, Secretário de Planejamento Urbano de Florianópolis, será painelista sobre infraestrutura cultural, sendo que ele quem capitaneou a condução do processo do Plano Diretor (aquele aprovado sem considerar o que as associações de bairro e sociedade manifestaram em diversas audiências), e o arquiteto Ângelo Arruda, que faz parte da Curadoria Geral do Evento. Este foi protagonista de um episódio emblemático em 2022, quando um áudio dele circulou nas redes sociais, sugerindo uma estratégia para aprovar o Plano Diretor sem participação popular:
“É fazer tudo ao mesmo tempo. A prefeitura monta uma guerra de guerrilha (sic) com 300 funcionários, 13 datashows, cada um num centro ou distrito. Pega de uma segunda até a sexta, faz dois por dia, pronto. Encerra e agora ninguém pode dizer mais que não conhece o conteúdo”.
Para entender melhor o processo de revisão do Plano Diretor e o papel destas duas pessoas, leia a excelente matéria “Revisão do Plano Diretor de Florianópolis avança em meio a denúncias de conflito de interesses e ameaças”, publicada no Cotidiano UFSC, e que rendeu um processo contra a estudante de Jornalismo que o escreveu.
Aliator também estará presente, no painel sobre sustentabilidade, para falar sobre a “Proposta para o Mangue do Itacorubi”, manguezal que engloba a Ponta do Coral, Ponta do Goulart e Ponta do Lessa, territórios que fazem parte do projeto do Parque Cultural das 3 Pontas, defendido pelo Movimento Ponta do Coral 100% Pública, que começou há 44 anos.
Além dos participantes, algumas incoerências no formato e espaço chamam a atenção:
- Som alto em um Jardim Botânico (que proíbe som alto)
- Acesso restrito no espaço público
- Censura a manifestações ‘políticas’ (em um espaço que discute a cidade?)
- Cerceamento da liberdade de expressão
- Não pode entrar com panfletos ou cartazes com mensagens não autorizadas (Ora, e quais mensagens podem estar em cartazes e panfletos? Quem são esses organizadores para dizerem que alguém não pode ir com um cartaz em um evento, em lugar público, que discute o meio ambiente, a cultura, as políticas sociais da cidade?)
Não surpreende este ambiente fortemente controlado, quando o objetivo principal é endossar a agenda empresarial dos organizadores.
Convidamos os diferentes grupos culturais e artísticos, que tem participação prevista no evento, para refletirem sobre a qual projeto de cidade estão servindo. Provocamos, também, as organizações comunitárias e movimentos sociais a se mobilizarem neste debate conjunto sobre o rumo da cidade, que vem sendo ocupado de forma melindrosa pela organização Floripa Amanhã, que está cooptando pautas tão caras para os nossos coletivos. Sem formularmos em conjunto estratégias comuns de enfrentamento, Floripa amanhã estará totalmente entregue aos projetos neoliberais e ecocidas.
Movimento Ponta do Coral 100% Pública
Indignada por um evento desse porte no Jardim Botânico, onde nesta época do ano tem a maioria das aves nidificando e, portanto, .uitos ninhos com ovos e filhotes. O quanto estão perturbando essas aves que procuram um cantinho de sossego e boa vegetação para reprodução.
O Jardim Botânico está em frente a muitos prédios residenciais, inclusive muito próximo ao complexo oncológico (Cepon) onde há pessoas com doenças graves precisando de calmaria. Então, esse evento ou outros que incluem som alto implicam grande perturbação do sossego alheio. Além de tudo, na entrada do JB há uma placa de que é proibido som alto. Para eventos pode???
Também não pode danificar a vegetação, mas uma grande tenda em cima do gramado não danifica nada??? É urgente que sejam proibidos eventos com som alto e que prejudiquem a vegetação no Jardim Botânico de Florianópolis! Esse lugar é e dever ser lugar de paz, calma, sossego.
Trajando modelitos ‘pop-esportivos’ eles e elas se apresentam como “portadores do futuro”, quando, em verdade, estão queimando o futuro para as próximas gerações. Bem unidos e articulados, baixo unísso ‘desenvolvimento sustentável’, maquiam os conceitos (originados pelo movimento ecológico décadas atrás), empastelam as propostas com refinamentos técnicos em meio a eco-lero-lero. Enquanto isso o campo popular fica no sofá assistindo o “espetáculo”, desunido, sem estratégia de longo prazo e alguns no campo popular ainda se dispondo a dialogar com a “governança da elite florianopolitana”. Noves fora: Levaram no primeiro turno de lavada e 18 a 5 na Câmara Municipal.
Gert Schinke