Rede Globo, Trigueiro e o Eco-Topázio

Republicando texto de Gert Schinke.

Durante a semana transcorrida entre os dias 6 e 10 de janeiro, o JORNAL NACIONAL apresentou uma série de reportagens tratando da questão do lixo no Brasil, preparados pelo famoso jornalista André Trigueiro, locado na Globonews, onde é comentarista designado para a “área ambiental”. Lembremos que o JN é o programa mais assistido no país, por dezenas de milhões de pessoas, só perdendo para alguma partida importante de futebol da seleção.

Os primeiros episódios retrataram a situação geral que se apresenta no país, trágica para todos os efeitos, notadamente o deficit no tratamento dos chamados “resíduos sólidos”, que coloca o país dentre os piores no ranking do mundo. Mas, para mostrar um exemplo de “real avanço” (conforme a reportagem), trouxe no último capítulo da série, na sexta 10.01.25, uma reportagem sobre uma cidade que já está praticando o LIXO ZERO. Note bem: “já está” praticando ‘lixo zero’.

Quando a âncora do JN anunciou a última reportagem no dia anterior, 09 de janeiro, quinta-feira, me passou pela cabeça que o episódio certamente traria como exemplo de “lixo zero‟ uma pequena cidade, talvez pouco conhecida, na qual o processo estaria em estágio avançado, produzindo resultados satisfatórios com grande percentual de reciclagem de resíduos de todos os tipos.

Qual minha surpresa ao assistir o último episódio apresentar o município de Florianópolis como “o exemplo” de cidade lixo zero no país, trazido ao ar no dia 10.01.25. A despeito da reportagem, absolutamente ‘fake’ em vários sentidos, o que mais me repugnou foi ver um jornalista, que é conhecido por apresentar ótimas reportagens sobre questões ecológicas importantes da atualidade e, por vezes, se posicionar criticamente sobre as ações de governos locais e estrangeiros, se prestar a traduzir o que a Prefeitura de Florianópolis está promovendo na área como sendo uma realidade “lixo zero”, quando é sabido que a cidade hoje só recicla, quando muito, 10% do total de resíduos produzidos, situação que, de saída, desmente o tão comemorado exemplo. Se trouxesse como exemplo uma cidade qualquer que já estivesse no patamar de reciclar ao menos 50%, já seria um ótimo exemplo, mas justo Florianópolis?

Entre imagens de pessoas manipulando minhocas e produzindo adubo caseiro, além dos famosos “ecopontos” (dizem ser 290) espalhados pela cidade, que, na prática, recolhem basicamente vidros, e imagens de uma “central de coleta seletiva” (no antigo lixão do Itacorubi), a reportagem procurou retratar uma realidade que nem de longe corresponde a um processo efetivo de “lixo zero”. No desfecho
explicou que se trata de uma “meta” a ser alcançada em 2030, alusão ao plano que a PMF está implementando com este horizonte temporal. A ver como anda o processo, nem em 2100 a meta será alcançada, porque o plano da PMF parte de premissas equivocadas, tanto conceituais quanto administrativas.

Tratou-se, portanto, de apresentar em “horário nobre da tv brasileira”, uma mera propaganda institucional GRATUITA” para a PMF, chancelada pela credibilidade de um jornalista que milita na área, mas que traduziu uma articulação/conluio midiático entre a Rede Globo e a gestão Topázio, prefeito que, ao tomar posse no dia 01.01.25, terminou seu discurso denunciando a “politicagem” por parte daqueles
que lhe fazem oposição, o que inclui a minha pessoa, certamente.


Só para lembrar: Topázio tentou driblar de todas as maneiras a participação popular ao revisar o Plano Diretor, ignorando o Estatuto da Cidade. Ao final, rendido por várias decisões judiciais, fez acontecer as 14 Audiências Públicas consultivas passou o projeto do novo PD na Câmara de Vereadores por 19 votos a 4. Ganhou de goleada um projeto que significa “a queima do futuro‟ para a capital, na direção contrária que o colapso ecológico global indica fazer. Assistia às audiências mascando chiclete, falando ao celular e rindo das intervenções das pessoas.

A despeito de sua “gestão administrativa” do processo de revisão do PD, ele foi “consagrado” por parte da gestão Lula com um prêmio nacional de “melhor gestão administrativa e inovação” do país, vide imagem abaixo, em solenidade ao recebê-lo das mãos da ministra do MI, em março de 2023.

“É motivo de orgulho saber que temos uma equipe técnica qualificada para ajudar a cidade a ficar em destaque em um ranking tão importante. Sabemos que somos referência para outros municípios em inovação da gestão pública, mas ter a certeza que estamos levando Floripa para o caminho certo é gratificante. Agora vamos continuar trabalhando para nos manter no topo”, diz o prefeito Topázio Neto (Fonte: reportagem no site da PMF, de março de 2023)

É “notável” o que um esquema midiático consegue produzir na opinião pública e na mente das pessoas, ao apresentar uma realidade falsa, uma fantasia, um péssimo exemplo como sendo um bom exemplo, tudo o que não se esperaria produzido por um jornalista que se mostra ao público como tendo uma visão crítica das questões ambientais.

Como se vê, mais uma vez dentre tantos exemplos, totalmente “domesticado” pelo esquema da grande mídia comercial, afinada com os interesses econômicos e políticos das elites nacionais e internacionais. Imagine o que virá ao longo do ano diante da COP 30: dezenas de reportagens como estas, bilhões gastos em obras fantásticas para inglês ver, e muita, muita champanhe e caviar em meio aos papagaios e onças na Amazônia. A “maquiagem verde” está vencendo.

Gert Schinke, na “ilha da magia”, em 11.01.2025

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