Moradores de uma praia de Florianópolis lutam contra grande empreendimento construído irregularmente.
Publicado originalmente no dia 04 de abril, no site A Nova Democracia. Texto de autoria de Rosana Bond.

Uma pequena praia de Florianópolis (SC), através da sua combativa Associação do Bairro de Sambaqui (ABS), está lutando contra a construção de um hotel que está destruindo milhares de metros de mata nativa e poluindo o mar e a areia, depredando a natureza “preservada desde sempre com muito cuidado e atenção”, segundo informa uma moradora.
A obra se localiza no Toló, pequena faixa litorânea integrada à praia do Sambaqui, norte da Ilha-capital de SC. O hotel Vistas Sambaqui Transamerica Collection, que está sendo erguido irregularmente numa encosta para abrigar hóspedes economicamente privilegiados em 12 “lofts”, pertence à empresa estadunidense Atlantica Hospitality International, cujos donos são 2 fundos de investimentos sediados nos USA, pertencentes a 2 dos maiores bilionários do mundo: George Soros (Quantum Strategic Partners) e Nicholas Pritzker (Tao Capital Partners).

Piscinas aquecidas em espaço desmatado
O luxuoso empreendimento vai ocupar cerca de 7 mil metros quadrados, sendo boa parte em Área de Preservação Permanente (APP), portanto algo ilegal e irregular.
Além disso, outras partes estão em APL-E (Área de Preservação com Uso Limitado de Encosta). Ocorre que no Toló, justo onde estão sendo feitos os trabalhos, a declividade do terreno não libera edificações sobre ele de modo irrestrito.

Às custas do abate de árvores grandes e de outra vegetação de menor porte da mata atlântica, com deslizamento de lama ao mar durante as enxurradas, estão erguendo os “lofts” que terão sacadas com piscina aquecida com borda infinita e spa.
Protesto com café na areia
O desmatamento está adiantado, formando uma “ferida” na paisagem verde. A Prefeitura, recebendo pressões de vários lados, embargou as obras hoteleiras na quinta-feira, 3 de abril. Foi uma primeira vitória do povo morador da praia de Sambaqui. E assim foi entendido e celebrado.

Mas como diversos fatos que envolvem este crime/desastre ecológico estão ainda inexplicados e cheios de “mistérios”, a população continua em sua luta contra o hotel.
Reivindica a suspensão total de todos os trabalhos até que tudo seja devidamente investigado pelo Ministério Público.
Enquanto pessoas da ABS encaminham os atos jurídicos necessários, os moradores marcam sua reivindicação (parar tudo e esclarecer os fatos) e sua revolta contra a obra com um protesto no sábado, dia 12.
Será um protesto inusitado e criativo. Às 15h30 se reunirão na areia praiana em frente ao Toló, antes limpa e hoje suja com a lama descida da construção do hotel, e ali farão um farto café da tarde.
É um hábito alimentar ainda típico dos “manezinhos” de Florianópolis. Entre palavras de ordem, faixas e cartazes feitos de forma coletiva, haverá mesa compartilhada e música ao vivo.
Esse texto expressa a opinião do autor.
Rosana Bond é escritora e jornalista, autora de mais de 20 livros sobre conflitos na América Latina e a saga dos povos ameríndio. Entre seus livros mais conhecidos estão “Nicarágua: a bala na agulha” (1985), “Sendero luminoso: fogo nos Andes” (1991), “A civilização inca” (1993).