Nas margens da via expressa sul, entre o mar e a rodovia existe um lugar conhecido como Quadrado, ou Pomar dos Ciclistas. Mas não é apenas mais um dos quadrados do imenso aterro público que se estende por quilômetros para o sul. Ali existe algo de especial, e o que o torna diferente é a vontade coletiva, que há 5 anos através de diferentes cabeças, braços, pernas e corações sonham, plantam e cuidam daquele lugar, no melhor espírito anárquico.
Ali já rolou de tudo, plantações de frutíferas, estrutura de captação de água da chuva, circuitos de Mountain Bike, balanços, sofás, cinema. Tudo público, construído e disponibilizado de forma gratuita para usufruto coletivo e feito diretamente por quem se encantou com a ideia, sem apoio algum do poder público.
Durante estes 5 anos foram inúmeras promessas feitas por vereadores e o prefeito Gean, mas o parque tão sonhado pela comunidade não passou de promessas ao vento. Além disso vários incêndios destruíram plantas e mobiliário, fazendo com que o sonho tivesse que recomeçar das cinzas. Agora, na esteira de toda a venda de uma cidade e um país em liquidação, vemos os aterros na mira da especulação imobiliária.
Depois do último incêndio em janeiro, movimentos da cidade tem se unido a esta causa, denunciando o plano do governo Bolsonaro para vender as terras públicas que incluem o aterro da baia e da expressa sul. O Quadrado se tornou um símbolo desta luta, com duas atividades realizadas desde o inicio do ano. Além do debate político, as atividades visam reavivar o espaço, mostrando que a política também se faz com as mãos na terra.
A última atividade foi um mutirão de plantio, realizado no último sábado, dia 19 de fevereiro. Desde às 8h da manhã, em um belo dia ensolarado, já tinha gente com pás e enxadas nas mãos, cavando os buracos para colocar as primeiras mudas recebidas em doação. Ao longo da manhã mais voluntários e voluntárias iam chegando, trazendo ferramentas, e conversando com quem já estava na lida, para ver como poderiam ajudar. Cavar buracos, plantar mudas, pegar composto, regar, trabalho não faltava!
Ao longo da labuta, piadas, troca de ideias, afetos e também conversas sobre como virar esse jogo e conseguir o tão sonhado parque. O tempo passou rápido, e quando vimos já era meio dia. Momento de contemplar o nosso “totem”, o ponto de abdução símbolo do Quadrado, transformado com uma mandala à sua volta para criação de uma horta comunitária.
E para relaxar os corpos, um piquenique com a música ao vivo do grupo Nós do Morro, e quem mais quisesse se juntar para fazer um som.
No fim a atividade fez jus ao nome! Foi um sábado “SulReal”, onde cerca de 30 pomaristas, nome carinhoso para quem se movimenta pela causa, puderam compartilhar tanto. E nestes tempos de tanto desalento, da pandemia aos novos fascismos que nos permeiam, nos fortalece estarmos juntos sonhando e plantando a esperança e as utopias.
O coração do Quadrado segue batendo e o aterro segue vivo. Que venham os próximos mutirões!
Créditos: Com exceção das do show, as demais fotos são de autoria de Letícia Barbosa. Todas são do mutirão.
Totalmente demais essa ação e o movimento pra apropriação pública desse espaço tão especial e que mais que nunca corre tanto risco. Ocupar pra não entregar é necessário pra manter do povo o que é do povo e afastar a gana predatória da especulação imobiliária e de políticos gananciosos. Parabéns a todos os envolvidos.
maravilha!!!
“nestos tempos de tanto desalento”
Muita ação coletiva, inteligente e solidária nesse movimento! Amei saber desse coletivo!