Chamado para o ato na última audiência do Plano Diretor
O processo de revisão do Plano Diretor de Florianópolis foi uma farsa do inicio ao fim. Não faltaram denúncias de irregularidades, conflitos de interesses e sabotagem da participação popular. A Proposta entregue pela Prefeitura à Câmara sequer leva em conta as críticas da população, feitas durante as audiências.
Sabemos que este é um verdadeiro Plano de Negócios, encomendado por setores da especulação imobiliária e construção civil. Um Plano que é um crime contra a cidade, pois, se aprovado, irá agravar os problemas já existentes de saneamento, mobilidade, moradia e desproteção de áreas de preservação ambiental.
Dia 13 de março, a Câmara Municipal realiza a última audiência do Plano Diretor, na ALESC, às 18h, no auditório Antonieta de Barros.
Convocamos toda a população indignada da cidade, movimentos sociais e comunitários a estarmos presentes a partir das 17:30 para dizermos um grande NÃO a este Plano Diretor, denunciando essa farsa.
Em meio as trocas de ônibus em terminais e rotas que parecem querer postergar a chegada no destino… Mas, como o dia começa um pouco mais fresco, em alguns lapsos do caminho é possível ler nos ônibus, biarticulados, mais novos, e com melhores amortecedores. Da baldeação vamos aos ônibus menores e mais antigos, nesses a leitura cede espaço para o equilíbrio em meio ao navio em mar agitado. Os pulos são frequentes e para quem não sabia, logo descobre para que servem os ferros do banco da frente, eles ajudam a manter o corpo no pequeno espaço do banco, mesmo que “por aqui não tem jeito. Todo mundo se encosta”. Depois de uma longa jornada o retorno.
A cidade está à venda, compra quem pode
Cidade à venda
Para chegar ao ponto de ônibus, mais poeira e mudanças em obras que começam sem ter sentido e que não terminam não se sabe porquê. Ao sair da Servidão Três Marias, vemos a diferença em ritmo acelerado. A prioridade da segurança dos pedestres foi posta à venda. Há quatro meses a obra parecia que aumentaria o trecho de ciclovias, mas depois desse tempo as ilusões com alguma melhoria se foram. Para quem depende de seus pés e do transporte coletivo para a labuta cotidiana restou o gosto amargo da raiva.
Obras na SC 403
No canto direito da foto há um ponto de ônibus, agora espremido pelo asfalto que quase toca os passageiros que aguardam sua minhoca de metal para voltar à casa. Vemos um pai disputar o asfalto com os carros ao levar seu filho em seu carrinho. Esse ponto de ônibus é o mais próximo das unidades educativas; Escola Básica Municipal Professora Herondina Medeiros Zeferino, EBM Neuza Paula da Silveira (que juntas somam mais de 2500 alunos) e do Neim Ingleses I (com aproximadamente 500 crianças de 0 a seis anos).
Para priorizar os carros o prefeito tirou a lomba faixa, na semana seguinte tirou também as ciclovias que disputavam o espaço com a calçada dos pedestres, na outra foi embora toda a calçada. O ponto de ônibus ficou espremido em meio ao asfalto. Os caminhões tiram fino dos pais levando seus filhos ainda tão pequenos que vão em carrinhos de bebê. Os cadeirantes para esse prefeito precisam ficar em casa, haja vista não ter sobrado espaço para rodinhas na calçada que não mais existe.
Isso mostra como a ideologia tem base material. O americanismo, um carro para cada pessoa, o carro como conquista da liberdade e a venda de tudo. A cidade está à venda? O Plano Diretor deve ser votado em breve e a retirada de uma ciclovia e calçada de um ponto central do bairro dos ingleses mostra quem pode e quem sofre. A disputa é desigual!
Como diria o poeta Felipe Pessoa:
Edificou-se a tristeza concretando ideais O gosto humano por praças verdes calmante se vai Desgosto humano sem praça empilhado em gaiolas verticais Se vai, alma se vai
Em Florianópolis quem manda anda de carro ou iate. Quem depende de ônibus têm o tempo roubado nos deslocamentos e sente-se boi no curral humano dos terminais de ônibus. No TICAN (Terminal de Integração de Canasvieiras) as filas gigantescas impedem a caminhada apressada para tentar pegar a conexão de outro ônibus. As minhocas de metal veem lentas, são muitas pessoas para entrar em cada ponto e poucos ônibus para levar tanta gente trabalhar. As linhas são pensadas para aumentar o lucro de alguns capitalistas do transporte e não há um ônibus direto de canasvieiras até a trindade. Enquanto os trabalhadores viajam pela via lateral da SC-401, parando a cada tanto, o trânsito dos carros flui pela principal. Logo todos param porque um motoqueiro está caído no asfalto. Pouco depois o ônibus para novamente e dá espaço para passar a ambulância de mais um trabalhador acidentado.
O cheiro pela manhã é forte no ônibus, da comida na mochila, do suor de quem precisa, mas não consegue tomar um banho, do bafo e da agonia em ver as janelas pequenas para a circulação do ar entre tanta gente. É um ambiente insalubre!
No meio do caos eis que surge o imponente sol que se põe lindo e toca o mar. Há algo de belo e a vida vale a pena. Que essa raiva seja coletiva e consiga mudar o que nos desumaniza. Termino com as esperanças do poeta local que sintetiza o misto de sentimentos de quem sofre as agruras de esquecer que é humano e ao ver a bela paisagem no final do passeio por ônibus e com a barriga doendo de fome e as costas cansadas de tanto sacolejar lembra que há mais, que nas belezas desse
[…] pôr do sol que presenteia, Dorme no mar com a lua cheia Para um novo amanhã
A Proposta Popular para o Plano Diretor é resultado de um processo de construção coletiva, que envolveu a participação de movimentos sociais, associações de moradores, acadêmicos e especialistas em diversas áreas do conhecimento.
Reivindicamos que essa proposta do movimento popular seja apreciada na integra pela Câmara Municipal de Florianópolis. É fundamental que a voz da população organizada seja ouvida para avançarmos na construção de uma cidade pensada para o bem comum!