Publicado por Elaine Tavares, em seu blog.
A luta por uma cidade na qual todos possam ter o direito de morar e fruir é diária e sistemática. No caso de Florianópolis vivemos acossados pelos interesses imobiliários que, ao se apropriarem dos espaços mais próximos das praias, expulsam as famílias e constroem monstros de concreto para especulação. “Venha viver no paraíso”, dizem. Mas, ainda que consigam construir moradias bonitas e com lindas vistas para o mar, não conseguem dar conta da mobilidade, do saneamento e muito menos entregar uma praia limpa. O paraíso é uma imagem borrada. Quem frequenta a praia no verão sabe muito bem: multidões, lixo, esgoto sangrando para o mar, doenças de pele.
O prefeito Gean e seus grupos de apoio, não satisfeitos com a destruição já provocada pelas sucessivas mudanças de zoneamento e por um Plano Diretor aprovado às pressas, sem levar em conta o desejo das gentes nas comunidades, quer aprofundar ainda mais o adensamento populacional, principalmente na ilha. Daí a sua pressa em aprovar, de novo, um plano alienígena, totalmente descolado daquilo que sonham e querem os moradores dos bairros. No fundo, a proposta base é justamente garantir a construção de prédios. Prédios altos, com muitos apartamentos para vender e, com certeza, de alto padrão.
No caso do Campeche, a luta popular organizada conseguiu ao longo dos anos garantir a continuidade de um bairro menos vertical e ainda que os tais condomínios tenham infestado a comunidade, pelo menos não são espigões. Mas, ainda assim tem sido quase impossível entrar e sair do bairro na temporada de verão. Há congestionamento da Pequeno Príncipe que dura horas e há também congestionamento na rua do Gramal, coisas impensáveis até ontem. Isso significa que a comunidade fica completamente impossibilitada de se mover já que há apenas duas saídas para o centro da cidade: ou pelo Rio Tavares ou dando uma baita volta pela Lagoa. Não bastasse isso, esses caminhos também ficam engarrafados durante o verão e até mesmo fora dele. É o terror. Quem tem de sair para trabalhar sabe bem o inferno que é ficar 40 ou 50 minutos só no trecho entre o Hiperbom e o trevo.
Mas, a cidade pensada pelo Gean e sua turma não é a cidade dos trabalhadores. Ela é pensada para quem pode ficar o verão inteiro em casa, curtindo a praia, o sol, as baladas. Os trabalhadores que lutem, que saiam de casa mais cedo, estão aí pra isso mesmo: servir ao capital.
A nova proposta de mudança de Plano Diretor implica em mais prédios, mais andares, menos mobilidade, menos saneamento, menos água, mais lixo, tudo isso numa ilha. E o prefeito ainda queria brincar de realizar audiência pública para respaldar a proposta. Levou uma cacetada do judiciário que impediu as audiências propostas para serem feitas todas num único dia e no mesmo horário, impedindo assim a mobilização das comunidades.
Agora o Gean terá de realizar as audiências em dias distintos e discutir com cada uma das regiões as mudanças. Claro, isso não significa vitória das comunidades porque pode acontecer como já aconteceu: os caras do IPUF vêm, apresentam o plano, fingem ouvir e vão embora sem incorporar nada do que foi discutido. Depois, os vereadores, a maioria comprometida com o projeto de Gean e dos empreiteiros, votam, aprovam e pronto. Lá se vai pelo ralo mais uma longa batalha das comunidades.
Ainda assim isso não significa que devamos ficar de braços cruzados. A luta é necessária e a empreendemos. Depois de muito vai-e-vem e ação firme das entidades comunitárias as audiências foram suspensas. Isso dá um fôlego para que se possa informar a população sobre os absurdos que estão planejados. Não garante vitória, é certo, mas pode barrar alguma coisa. Essa queda de braço sobre o modelo de cidade é um processo sem fim.
Faço parte do grupo que quer uma cidade aprazível, na qual se possa morar com dignidade, trabalhar e desfrutar das belezas. Não quero que Florianópolis se transforme numa “Las Vegas” tupiniquim, onde apenas os ricos desfrutam.
É fato que a maioria dos moradores votou pela segunda vez em Gean Loureiro, e sabendo muito bem qual era o seu projeto. Muitos sonham com essa cidade de luzes, feita para ricos e carros, acreditando que aí terão oportunidades. É uma ilusão.
Nosso papel é seguir informando e lutando. Que venham as audiências públicas e que a gente possa mostrar o que se esconde por trás das propostas mirabolantes e os discursos adocicados dos jornalista de boca-alugada da mídia comercial local.
A cidade é o cenário da luta de classes no qual mais temos chances de intervir. Por isso não dá pra claudicar. Agora que vencemos essa etapa, há que preparar o ataque.