Associações comunitárias entregam denúncia sobre o Processo de Revisão do Plano Diretor à Câmara de Vereadores de Florianópolis

Denúncia entregue à câmara da vereadores, sobre o processo de revisão do plano diretor
Denúncia entregue à câmara da vereadores, sobre o processo de revisão do plano diretor

No dia 26 de setembro de 2022 foram entregues à Câmara de Vereadores de Florianópolis documentos que denunciam as diversas irregularidades e ilegalidades ocorridas ao longo do processo de Revisão do Plano Diretor de Florianópolis. O documento, assinado por 8 entidades de diferentes regiões da cidade e por um conselheiro da região sul da ilha, cobra que a casa suspenda a tramitação do processo de revisão do Plano Diretor e instale uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para apurar os fatos.

índice do documento da denúncia
Índice do documento da denúncia

Entre as denuncias apresentadas esta a contratação da FEPESE (Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos) com dispensa de licitação, sem justificativa, por R$ 149.220,00, apresentando falhas na prestação do serviço para a sociedade, em sua responsabilidade de organizar o material produzido durante as audiências públicas.

As entidades também denunciam falhas graves no processo de revisão, como a ausência de oficinas nas comunidades; falta de mapas, cartogramas e tabelas, descarte de propostas da população, manipulação de dados, negativas em entregar documentos públicos (falta de transparência), violação do regimento interno do Conselho da Cidade, entre outras diversas irregularidades e ilegalidades, apresentadas em um documento de 45 páginas e 4 anexos que somam mais de 1000 páginas.

O documento ainda faz uma linha do tempo do processo de Revisão do Plano Diretor, ao qual a Prefeitura tentou aprovar ainda em 2021, violando o Estatuto da Cidade, sendo obrigada este ano a realizar audiências públicas através de um Termo de Ajuste de Conduta firmado com o Ministério Público de Santa Catarina, ao qual as comunidades denunciam não estar sendo cumprido pela Prefeitura.

A minuta do projeto de lei foi entregue pelo Prefeito Topázio Neto (Republicanos) à Câmara de Vereadores no dia 22/09, em uma sessão extraordinária que foi alvo de protestos por parte de movimentos sociais e associações comunitárias, que questionam a falta de participação popular no processo, denunciando que a minuta entregue à Câmara não foi debatida com as comunidades que participaram das audiências públicas. Vereadores da oposição também questionaram a quebra do regimento interno por parte do presidente da Câmara, Roberto Katumi (PSB), que violou o regimento ao chamar a sessão sem definir uma ordem do dia.

Seguem, na íntegra, os documentos da denúncia e seus anexos:

Conferência Popular da Cidade – Parte 2

Chamado da atividade

RESERVE A DATA 07/10/2022 das 18:00 – 22:00

Conferência Popular da Cidade [Parte 02]: A ciência que precisamos para a cidade que queremos.
Aberto ao público !

Dando continuidade à conferência da cidade iniciada em 23/09/2022, vamos abrir espaço para a construção de um documento-manifesto coletivo com posicionamentos técnicos, acadêmicos e comunitários frente a revisão do plano diretor de Florianópolis.

🗓️Quando? 07/10/2022
📍Onde? UFSC – no auditório Garapuvu
🕗 18:00 – 22:00
PROGRAMAÇÃO
• 18:00-18:30 – Abertura
• 18:30-19:30 – Destaques da Conferência parte 01
• 19:30-22:00 – Manifestação pública, trocas e construções coletivas

Participe!
Você é muito importante para a construção do futuro da nossa cidade!

Transmissão online 🎬 https://youtu.be/Ne1mu-1DbS0

Relato da manifestação, na entrega da Minuta do Plano Diretor para a Câmara de Vereadores

Manifestação por Participação Popular Já no Plano Diretor

Na tarde de quinta, dia 22/09, às vésperas da primavera, ocorreu a manifestação de luta contra o Plano Diretor que a Prefeitura de Florianópolis, mancomunada com empresários da construção civil, vem querendo empurrar goela abaixo da população em prol dos interesses da especulação imobiliária.

Concentração em frente à Catedral

O ato começou em frente à catedral. Aos poucos, as pessoas foram chegando. Movimentos sociais, ambientalistas e associações de moradores e moradoras estiveram presentes, trazendo faixas com dizeres associados à degradação ambiental, perda da qualidade de vida e exigência por efetiva participação popular no planejamento e gestão da cidade. 

Faixas exigem preservação do meio ambiente e qualidade de vida para a população

Discursos foram feitos nas escadarias, panfletos foram distribuídos aos passantes e um abaixo-assinado, com o título “A farsa do processo de revisão do Plano Diretor de Florianópolis – Estelionato contra a população”, feito pelas Associações dos moradores de Cacupé, Sambaqui, e Conselho Comunitário da Costa de Dentro também foi colocado a disposição pra quem quisesse assinar.

Assinatura do abaixo-assinado

O ato que, a princípio, iria se estender até a PMF e MPSC, pois estes dois atores tem sido fundamentais para rápida aprovação do Plano, a PMF de forma ativa, atropelando a participação popular, e o MPSC de forma passiva, deixando que o processo seja atropelado, mesmo com a PMF descumprindo pontos do Termo de Ajuste de Conduta firmado em abril deste ano. Entretanto, fomos pegos de surpresa com uma sessão extraordinária na Câmara de Vereadores, para entrega da minuta do Plano Diretor. Por isso o ato partiu em caminhada até a Câmara de Vereadores, fechando a rua dos Ilhéus, no ritmo do berimbau e do pandeiro, e com gritos de “ilha da magia, ela é do povo, não é mercadoria!”.

Manifestação segue até a Câmara dos Vereadores

Esta sessão extraordinária, somente marcada um dia antes, foi para entrega da minuta do projeto de revisão do Plano Diretor de Florianópolis. Minuta essa que nunca foi debatida com a população, que participou (com a PMF só escutando) das 14 audiências públicas, sem ao menos conhecer seu conteúdo, e que foi analisada e votada a toque de caixa pelo Conselho da Cidade. O ato prosseguiu em frente à Câmara, com palavras de ordem e colocação da uma grande faixa “Floripa quer vida com Qualidade, Prefeitura quer + Prédios + Trânsito + Esgoto”, no alambrado da rampa de acesso.

Faixa estendida na Câmara exigindo qualidade de vida
Manifestação em frente à Câmara

A guarda municipal estava a postos, mas, após longa negociação, liberou a entrada da população nos espaços reservados a ela: um grande “aquário” de vidro duplo blindado, que abafa os gritos de insatisfação e relega o papel de espectadores como passivos aos que assistem as sessões. Mesmo assim, foram colocadas faixas nos vidros para denunciar a revolta com o atropelo da soberania popular.

Manifestação popular segue na Câmara

A sessão foi tumultuada, pois o presidente da Câmara, Roberto Katumi (PSB), rasgou o regimento ao chamar a sessão sem definir uma ordem do dia. Fato contestado pelos vereadores Afrânio (PSOL), Carla Ayres (PT), Coletiva Bem Viver (PSOL), Marquito (PSOL) e Maykon Costa (PL), que protestaram na tribuna. A sessão foi encerrada logo após a entrega do documento pelo Prefeito Topázio (Republicanos), que, em seguida, participou da uma coletiva de imprensa.

Sessão na Câmara, separada do povo por vidro duplo blindado

Os vereadores, contrários a esta farsa, chamaram os ativistas pra, também, darem entrevistas para imprensa, que deu algum destaque para a manifestação, embora tenha aderido, em bloco, ao discurso da Prefeitura, que insiste em dizer que o processo está sendo “democrático”, quando, na realidade, é um simulacro de participação, apenas para conferir um verniz de legalidade na aprovação relâmpago do plano das construtoras.

Ilha da Magia! Ela é do Povo, não é Mercadoria!

A luta por real participação popular continua. Exigimos que este processo seja suspenso, que a Prefeitura realize debates e apresente os estudos técnicos de capacidade de suporte e adaptação para as emergências climáticas. Uma nova primavera urge  para voltarmos a sonhar com outro modelo de cidade, mais democrática e inclusiva para todos os seres vivos, que nela habitam ou estão de passagem.

Nada sobre nós sem nós!

Pela participação do povo no planejamento e gestão da cidade!

Plano Diretor, Participação Popular Já!

Créditos para as fotos: Leonardo Tolomini Miranda