Como enfrentar o colapso ecológico do capitalismo nas lutas locais?

Roda de Conversa: Caminhos anticapitalistas na disputa pela terra na grande Florianópolis

Publicado originalmente no site do Coletivo Ecolhar.

Tragédias como as que ocorreram no vizinho Rio Grande do Sul recentemente evidenciam que vivemos em um cenário de emergência climática e rumo ao colapso socioambiental.

Entretanto, discursos reformistas de desenvolvimento sustentável e capitalismo verde ainda são predominantes nos movimentos socioambientais.

As corporações capitalistas e seus governos estarão em breve na COP30, vendendo promessas e a ilusão da participação social. E muitos movimentos são cooptados por esta lógica, sequer colocando o capitalismo como a raiz do colapso, e sua superação como uma necessidade para nossa sobrevivência.

A grande Florianópolis tem sofrido investidas pesadas do capital, em especial da especulação imobiliária, inclusive internacional, tendo a terra como principal foco de disputa. Ocupações urbanas locais resistem nas periferias, em luta por moradia digna e buscando uma relação mais harmoniosa com a terra. Mas os movimentos socioambientais locais dificilmente dialogam com estas lutas, e vice-versa.

Com este encontro, focado na disputa pela terra, queremos aproximar estas lutas e agregar movimentos e pessoas com uma perspectiva anticapitalista da luta socioambiental, para em conjunto buscarmos caminhos para responder à pergunta do evento.

Quando: 30/10 19h

Onde: SINTESPE, Praça Jd. Olivio Amorim 82. Centro, Florianópolis.

Organização: Instituto de Formação Popular Caeté e Coletivo Ecolhar.

Apoio: MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) e Tecendo Redes

Ecolhar se soma na campanha contra a megalo-marina e prol das baías

Publicado originalmente no site do Coletivo Ecolhar

O Coletivo Ecolhar se soma ao movimento contra a construção da mega marina privada na Av. Beira Mar Norte, projeto capitaneado pelo atual prefeito em prol dos setores da construção civil e hoteleiro.

Apresentamos aos envolvidos e à comunidade em geral um texto que remete para as questões conexas a esta campanha, de forma propositiva, enunciando uma série de medidas que poderiam ser efetivadas de imediato em apoio à pesca artesanal nas baías, melhorias para navegação de lazer, esportes e turismo de baixo impacto ecológico.

Estas atividades estão presentes no maretório e nas orlas de toda a região, e que integram desde sempre a paisagem onde vivemos, integrada por uma grande ilha, cheia de baías e hoje sob os implacáveis impactos e ameaças de inúmeros vetores, especialmente aqueles promovidos pela voraz especulação imobiliária.

Caso queira, baixe o arquivo e nos ajude a divulgá-lo.

Carta De Esclarecimento à Sociedade Sobre a Casa de Passagem Indígena e Ponto de Cultura Goj Tá Sá

Material recebido da Associação Casa de Passagem Indígena e Ponto de Cultura Goj Tá Sá

A Associação Casa de Passagem Indígena e Ponto de Cultura Goj Tá Sá, por meio desta nota, vem a público manifestar-se diante das declarações veiculadas recentemente em vídeo pelo ex-deputado estadual e ex-secretário municipal de Assistência Social de Florianópolis, Bruno Souza, que, de forma racista, desinformada e irresponsável, busca mobilizar a sociedade civil e moradores do bairro Saco dos Limões contra a implantação do equipamento público municipal que formaliza e estrutura a Casa de Passagem Indígena e Ponto de Cultura no espaço do antigo Terminal Integrado do Saco dos Limões (TISAC).

É necessário esclarecer, com base em documentos oficiais e decisões judiciais, que não houve invasão ou ocupação irregular por parte dos povos indígenas. A ocupação do TISAC ocorreu em 2016, por proposição do Ministério Público Federal (MPF), como medida provisória de reparação e acolhimento diante da ausência histórica de políticas públicas voltadas às populações indígenas em mobilidade na cidade. Desde então, a área passou a cumprir uma função social legítima e legal, reconhecida pelo poder público e acompanhada pelo MPF e pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI).

O espaço em questão — um terminal construído em 2013 e nunca colocado em funcionamento — encontrava-se desativado e em estado de abandono, representando desperdício de dinheiro público. A sua destinação à Casa de Passagem Indígena transformou uma estrutura ociosa em um equipamento público de caráter reparatório e educativo, atendendo à demanda judicial que resultou em acordo firmado entre o MPF, a Prefeitura de Florianópolis e a comunidade indígena.

Esse processo, que se estende há quase duas décadas de luta, teve origem na ação civil pública ajuizada pelo MPF em 2016, que cobrou das esferas municipal, estadual e federal a construção de uma Casa de Passagem Indígena adequada às condições de dignidade e aos direitos assegurados pela Constituição Federal (artigos 215, 216 e 231), pela Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

O projeto atualmente em execução é resultado desse longo processo de diálogo e construção participativa. A Prefeitura, após diversos atrasos e multas judiciais por descumprimento do acordo, lançou em 2025 o edital de chamamento público para a execução da obra definitiva, com base no projeto arquitetônico elaborado pela Prefeitura e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em consulta prévia, livre e informada com as comunidades indígenas, conforme prevê a OIT nº 169.

É importante destacar que a Casa de Passagem Indígena e Ponto de Cultura Goj Tá Sá não é um abrigo improvisado, mas um equipamento público previsto em política afirmativa. Sua função é acolher famílias indígenas em trânsito — especialmente durante a temporada de verão, quando a venda de artesanato se torna a principal fonte de sustento — e garantir o direito de permanência e circulação segura dos povos indígenas em contexto urbano.

A atual presença de 14 famílias indígenas em caráter permanente é consequência direta da demora do poder público municipal em construir a sede definitiva e da falta de alternativas habitacionais adequadas. Mesmo assim, a comunidade mantém o espaço ativo, com ações culturais, educativas e ambientais reconhecidas oficialmente pelo Governo Federal como Ponto de Cultura.

O equipamento cumpre, portanto, uma função pública, social e educativa, contribuindo para:
● o cumprimento da Lei nº 11.645/2008, que determina o ensino da história e da cultura
afrobrasileira e indígena nas escolas;
● o fortalecimento das ações afirmativas e da política de permanência de estudantes
indígenas
nas universidades da região;
● a promoção do diálogo intercultural e do combate ao racismo;
● e a valorização da história e da presença indígena em Florianópolis, anterior à
colonização e essencial à identidade da cidade.

Reafirmamos que o discurso de ódio disseminado por figuras públicas, de caráter racista e desinformativo, não apenas atenta contra a dignidade dos povos indígenas, como também fere o princípio da convivência pacífica e democrática entre comunidades. Tais práticas são passíveis de responsabilização nos termos da Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989, que define e pune os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

A Goj Tá Sá é um espaço aberto à visitação e ao diálogo, que convida toda a sociedade a conhecer, aprender e conviver com a diversidade que compõe Florianópolis.

Seguimos comprometidos com a verdade, a justiça e o fortalecimento das políticas públicas que
garantem o direito à existência e à memória dos povos originários desta terra.

Florianópolis, 17 de Outubro de 2025.
Associação Casa de Passagem Indígena e Ponto de Cultura Goj Ta Sa,